A Sociedade Esportiva Recreativa Escola de Samba Unidos do Cabuçu acaba de divulgar o aguardado calendário e o regulamento do seu Concurso de Samba-Enredo para o Carnaval de 2026. Com o tema “A SAGA DOS TUPINAMBÁS A GUARANIS NO OLHAR DO TEMPO… ESCUTE O CHEIRO DA CHUVA… NA ALDEIA MARICÁ… CABUÇU!”, a disputa promete movimentar compositores e apaixonados pelo samba em busca da obra que irá embalar o desfile da agremiação no próximo ano.
Além do destaque cultural, o concurso deste ano traz um super prêmio de R$ 3.000,00 para o samba vencedor, reforçando o compromisso da escola em valorizar seus artistas e fortalecer sua ala musical.
CALENDÁRIO OFICIAL DO CONCURSO DE SAMBA 2026
- 29 de julho – Tira-dúvidas com o carnavalesco, das 19h às 21h, na quadra
- 19 de agosto – Tira-dúvidas com o carnavalesco, das 19h às 21h, na quadra
- 04 de setembro – Entrega dos sambas das 19h às 21h (na quadra).
- Inscrição gratuita
- Entrega de 20 cópias da letra + áudio
- Limite de 8 compositores por parceria, com até 2 participações especiais
- 07 de setembro – Apresentação dos sambas concorrentes
- 21 de setembro – Início das eliminatórias
- 05 de outubro – Semifinal
- 17 de outubro – Grande final
Confira em primeira mão nossa sinopse:
ENREDO:
“A SAGA DOS TUPINAMBÁS A GUARANIS NO OLHAR DO TEMPO… ESCUTE O CHEIRO DA CHUVA… NA ALDEIA MARICÁ… CABUÇU!”
ADMINISTRAÇÃO: Flávio Viana, Anderson Papai e Tadeuzinho.
AUTOR DO ENREDO: Anderson Papai.
DESENVOLVIMENTO DA SINOPSE E ENREDO: Anderson Papai, Vander Cobalto e Maicon Matarazzo.
SÍNTESE DO ENREDO:
“Na tribo, o velho é o dono da história, o adulto é o dono da aldeia e a criança é a dona do mundo” Orlando Villas Boas
A Sociedade Esportiva Recreativa Escola de Samba Unidos do Cabuçu, no alto dos seus 80 anos de resistência cultural, fundada aos pés da Serra dos Pretos Forros, antigo Quilombo de refúgio para negros e índios escravizados, vem em um ato de união e preservação da natureza, dos costumes e das tradições ancestrais de uma cultura singular. Propomos o desenvolvimento de um tema de sagrada importância para os povos originários, que tem na natureza seu vínculo com o sagrado, promovendo o respeito à diversidade cultural, e a valorização das contribuições dos povos ancestrais para a construção da sociedade brasileira, ressaltando através da cultura Tupinambá e Tamoio, a formação da região e do histórico da cidade de Maricá, que incentiva o resgate, a preservação e a difusão da cultura indígena. Maricá-Cabuçu ainda carregam juntos a Etimologia que nos une em um traço linguístico Tupi Guarani, onde a Vespa Grande (Cabuçu), viaja através dos tempos para região das plantas de espinhos (Maricá), fortalecendo um elo que nos une por ancestrais em comum em nossas formações.
SINOPSE:
“Sensibilidade, percepção e ressonância para ouvir as mensagens da natureza…”
Quando eu era curumim na minha aldeia Tupinambá, aprendi que a sabedoria em conviver harmoniosamente com a natureza e o respeito ao sagrado é um legado herdado pelos nossos ancestrais. Nós, assim como as cobras que rastejam pelas matas, guardamos por séculos esse chão, bem antes da chegada dos homens brancos aos nossos domínios; nos tempos de hoje Maricá, mas para nós, “Pariká” como chamamos essa terra em nossa língua.
O tempo passou… e sentado em torno da fogueira da aldeia dos Guaranis, ouvimos do grande pajé que novos rumos os ventos trariam. Junto com a maré que vem e vai, no clarão da lua cheia ou no cintilar do sol, ouvindo a sinfonia dos pássaros que teimam em não desafinar, de repente, ouvimos passos, vimos novas feições, sentimos novos perfumes. Um novo murmurar pairou na aldeia… olhares… curiosidades… eis que novos seres chegam ao nosso paraíso buscando comunhão, trazendo consigo novas religiões, costumes, culturas e o pretexto de defender o litoral recém conquistado, a Coroa Portuguesa iniciou a exploração de nossa aldeia Maricá e nunca mais os dias e noites seriam como antes…
Entre raios e trovões, tacapes e bordunas passamos a conviver com o novo, novidade nem sempre é sinal de progresso, mas acreditando em um “descobrimento” lá fomos nós vivermos os novos tempos que se apresentavam. Conhecemos um padre milagreiro, José de Anchieta se chamava ele, que hoje é até santo. Multiplicou peixes mesmo quando nossas redes e lanças voltavam vazias das pescas, saciando nossa fome e gerando abundância para as aldeias.
Foram chegando navios, tropas, objetos, vestimentas e culturas diferentes trazidos pelos novos habitantes que passamos a conviver.
As primeiras ocas dos novos povoados começaram a ser erguidas e levantaram também a primeira capela dedicada à Nossa Senhora do Amparo, padroeira da aldeia dos homens brancos que se fincaram em nosso chão. Tempos depois, construíram em nossas terras uma longa serpente de ferro que cuspia fumaça e rastejava por todo o vilarejo levando peixes e bananas para os negociantes da região.
O soprar do vento muda constantemente, trazendo consigo novas ondas no mar, novos pássaros no céu e novas crenças de todos os lugares. Se no passado todos os rituais circundam a natureza hoje também circulam entre os nossos
antepassados, trazendo à memória e à força dos espíritos que vêm de outras terras e acharam neste chão sagrado um lugar para repousar.
Se antes habitávamos as regiões costeiras de nossas terras, hoje nos encontramos dentro da mata, cercados do mais puro verde, nossas antigas ocas deram espaço para as casas de veraneio dos novos apaixonados por esse paraíso. Pessoas que vêm de todos os cantos, buscando aventuras ou descanso para a alma. Esse pedaço do céu que parece ter se invertido, reflete o mais azul dos mares, convidando a todos a voarem através das ondas ou a poder mergulhar até tocar as estrelas.
O tempo passou, e assim como no passado que o homem branco achou riquezas em nossa terra, hoje as riquezas se encontram nas profundezas do mar. O tal Ouro Negro, tão cobiçado por todos quis fazer morada aqui, revolucionando toda a regiao, permitindo a expansão e crescimento de toda a Maricá. Como já dizia o velho pajé, que mesmo com todos os espinhos, sempre iremos continuar florescendo.
Na aldeia, aprendemos desde muito cedo a celebrar a conexão com os nossos antepassados e com a natureza. Através de cantos e danças mantemos nossa identidade fortalecida, ensinando aos mais jovens a nossa história e o nosso legado de resistência. Lembro de uma celebração fora da aldeia que vi quando ainda era curumim e que nunca me esqueci, com batuques, cores e danças contagiantes que arrastavam multidões, assim como as nossas. Como na minha memória, hoje ela se repete por nossa terra, trazendo conexão com os antigos que iniciaram esses ritos. Reunindo os mais diferentes povos e despertando a chama animal mais profunda da alma que queima até virar cinzas, nesses dias de festa nossos corações além de vermelhos recebem as cores azul e branco junto com a força avassaladora do rugido de um leão.
Nosso povo respeita profundamente a natureza porque se entende como parte dela. Sabemos que viemos desse chão, e preservamos a harmonia com a fauna e flora, respeitando nossas tradições, nosso conhecimento ancestral sagrado e as práticas de conservação e restauração do nosso ambiente natural. Fincamos nosso sangue e suor nessa terra chamada Maricá, repleta de histórias de lutas, conquistas e memórias que repassamos aos nossos descendentes, histórias sobre nossas sagas, nossos povos e nossa identidade. Muitos de nós se espalharam por outras terras, mas ainda seguimos firmes e fortes aqui preservando nossa mata verde bonita e mantendo o nosso céu azul.
O grande legado que mantemos em Parika ou Maricá para os demais, é o saber conviver com o presente, respeitando o passado e pensando no futuro. Desenvolvendo práticas que ao longo de milhares de anos priorizaram a conservação e restauração do nosso ambiente natural, respeitando profundamente a nossa biodiversidade e ciclos naturais, pois através desses recursos mantemos nossa sobrevivência.
Diante de um cenário cada vez mais alarmante, a preservação do planeta e dos nossos territórios indígenas, precisa voltar ao centro das nossas conversas. A Unidos do Cabuçu, se volta para a chuva se sentindo como em uma aldeia unida, chamando a atenção para a cidade de Maricá, que através da preservação dá exemplo aos demais territórios, trazendo a mensagem de que é possível se conectar ao futuro, sem negligenciar o passado, construindo novas oportunidades, cultivando a natureza, mantendo uma relação de reciprocidade entre os povos e reconhecendo a importância do nosso povo originário, protegendo nossas memórias para as que as gerações futuras nunca se esqueçam que todos somos filhos e donos desta terra.